quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Poder do Adeus

"Ter uma vida, ter um emprego, ter uma carreira, ter uma família, ter a porra de uma televisão grande, máquina de lavar roupa, carros, aparelhos de CD's e abridores de lata elétricos, ter boa saúde, colesterol baixo, seguro dentário, prestações fixas para pagar, ter uma casa, ter amigos, ter roupas confortáveis e bagagem combinando, ter roupas feitas do melhor tecido, se masturbar numa manhã de domingo pensando na vida, sentar no sofá assistir programas que embotam a mente e amassam o espírito, enchendo a boca de porcarias acabar apodrecendo no fim de tudo,se envergonhar dos filhos egoístas que você gerou para substituí-lo, ter o seu futuro. ter a vida... perfeita.
Para que eu iria querer isso?
Para que eu iria querer satisfazer a expectativa dos meus pais de ter essa droga de vida?
Trocar as fraldas, pentear os cabelos, não colocar amaciante nas roupas - por que sempre tive alergia - cortar as unhas, escovar os dentes, colocar comida dentro da minha boca, ensinar a comer sempre com garfos, lavar as mãos, andar sempre de meias, andar sempre de agasalho, ler livros, assistir filmes interessantes, ensinar a jogar xadrez, pagar escola, pagar para levarem à escola, pagar Kumon, pagar para levarem ao Kumon, pagar inglês, pagar para levarem ao inglês, levar à exames periódicos, levar ao templo budista, pagar psicólogo, pagar cursinho, pagar rolês com pessoas com as quais achavam bom para meu convívio, apoiar relacionamentos com pessoas de bom nível, pagar meu ensino superior...
Eles pensavam que eu ficaria assim até o fim da minha vida...
Minha vida seria inviável longe de tudo isso... É o que pensam.
Foi preciso destruir vínculos... Vínculos de amizade, familiares, emocionais... Não é em todo mundo que você pode confiar cara.
Seus pais te conhecem à mais tempo que você mesma se conhece... Por isso eles acham que o que eles projetam para você que vai ser sempre o melhor... O negócio é que tem bilhares de coisas que acontecem com a gente que não contamos para eles... Sabemos o que pode ser dito, e o que eles ficariam muito putos de saber da gente, mesmo que essas coisas não fossem mudar nada em você e nem na sua vida... Ex: Pai, tomei um porre ontem... e tipo, eu fiquei muito louca, vomitei um pouco mas depois dormi... e tipo, isso foi enquanto você e a mamãe dormiam, por que meus amigos queriam comemorar meu aniversário de 11 anos...
Então veja bem... Não é por que as pessoas te conhecem à cinco, quatro, três anos que elas querem o teu melhor... As vezes é uma questão de comodidade... de peso de responsabilidade... "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" saca o O Pequeno Príncipe?
Mas é aquela coisa... é bonito dizer para as pessoas que se importa muito, mas tipo horrores, com elas... Enobrece a imagem da gente perante elas não é mesmo? Cria (ilusórios) vínculos de familiaridade entre nós e elas... E isso é muito romântico.
Só que o negócio é: Ninguém está na pele de ninguém para dizer o que realmente é melhor para ninguém. E ninguém nunca vai ser a outra pessoa, nem nessa vida, nem em outra, nem em outras, para se sentir no direito de cobrar que a pessoa faça o que você quer que ela faça só por que você acha que é "O melhor para ela".
Meus pais imaginam que sabem o que é o melhor para mim... E isso é uma coisa muito ditatorial... As pessoas que sempre nos dizem que sabem o que é melhor para nós, sempre se esquecem de que a liberdade de escolha, é um dos maiores bens que um ser tem. Eles dizem saber o que seria melhor para a gente em tudo, Mas na maioria das vezes não sabem, e nem procuram saber o que nos faria felizes, Afinal... eles julgam-se detentores da incontestável verdade de que só eles sabem o que é melhor para nós.
Foi aí que descobrimos o poder que o adeus tem.
Tamiris ♥

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