sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Bipolaridades...

Você acorda cinco horas da manhã, toma litros de chá mate, pra não voltar a dormir e ter uma noite péssima de insônia dezoito horas depois. Toma banho e tem a melhor manhã de todas, assistindo os Jetsons enrolada no edredon.
Daí você se entedia fácil... e quando você se entedia fácil... vai para a casa da amiga...
Ela ainda não acordou, mas o pai dela - que é muito carente de atenção - começa um sermão sobre a vida e o futuro, a perda de tempo que estamos tendo e etc... O cara simplesmente ilumina seu horizonte com toda aquela filosofia de quem já conhece muita coisa... Mas te ilumina mesmo, tipo, a ponto de você achar que deveria recompensá-lo com um presente dos bacanas, do qual ele gostaria muito etc...
Sua amiga acorda e te chama para ir num lugar longe, longe, muuuuuiiitoo longe, é uma chácara, do avô dela. Ela tem que ir ver o estado do lugar, ela irá passar o carnaval lá com uns familiares e amigos coisas do tipo... Você vai, afinal, sua vida realmente é tranquila, sem obrigações, compromissos coisa e tal.
Uma hora dentro de um ônibus, que passa por lugares nostálgicos, lugares que você nem se lembra muito bem da aparência, do cheiro, textura... aquelas coisas... É uma sensação boa. Daí você desce e anda por mais quatro quilômetros e meio dentro do mato, à beira de muita água, Muita água que escorre em um rio, que forma uma represa, o pessoal faz canoagem lá... chove, mas logo evapora, o calor é o calor absurdo do Brasil, mas tem árvores, muitas árvores, chega até a neutralizar todo aquela calor...
Você está andando sobre uma estrada aparentemente sem nome e cheia de pedras, que te faz até lembrar das histórias absurdas que sua avó contava sobre pessoas no purgatório, que tiveram que esvaziar oceanos com um conta gotas... alusões típicas de uma pessoa que está em um estado mental leve e descompromissado, sem nenhum problema para ficar matutando em soluções...
Um homem passa vendendo sorvete, vocês compram, mas sua amiga não fala se quer uma palavra com você, enquanto toma o sorvete por motivos religiosos, mas você começa a fazer milhões de perguntas só pelo hábito da pirraça...
A chácara da sua amiga está ótima a seu ver, BORBOLETAS! aos montes... um bichinho simples, mas que você, pessoa apegada aos centros urbanos, só costuma ver mortas dentro de vitrines em museus de zoologia. Passarinhos que fazem barulhos bizarros, aranhas enormes, abacaxis, roseiras, alecrim, tomateiros... Mas sua amiga vê montes de defeitos; "Muito mato, nossa, nem dá pra passar aqui! Não, não, sem condições! aahh que desânimo de pensar em limpar tudo isso! quantos pernilongos meu Deus!"
Vocês duas ficam lá pouco tempo, e o sol te bloqueia de pensar em voltar pra casa... Após algum tempo a coragem tem que vir, e vocês vão embora implorando por uma chuva torrencial, que acontece! e deixa suas calças caindo, o shorts da sua amiga transparente e seus cabelos em estado inédito. Existe uma névoa à frente de vocês, é a água da chuva se evaporando, as pessoas não conhecem vocês mas dão boa tarde...
Vem a sede, e a gente tenta matar ela em várias coisas, na chuva mesmo, nas folhas e até juntando saliva... porque não há um bar, mercado e nada que venda algo para matar a sede.
Quatro quilômetros e meio de volta depois, um bar em que não há pessoas atendendo... um bêbado que chega à conclusão de que vocês tomaram chuva apertando suas mãos, aparece para socorrer vocês... refrigerante!
Dentro do ônibus de volta, um maníaco por limpeza senta à frente de vocês duas e começa a limpar freneticamente o banco ao seu lado no qual não há absolutamente nada. Vocês riem muito, sentem muito frio também, devido as roupas molhadas e ao vento que entra pelas janelas do ônibus, apesar de estarem em pleno verão brasileiro.
Um homem com poucos dentes senta ao lado de vocês duas, e começa a olhar para vocês querendo esconder o riso. Logo depois ele está falando coisas como:
- Esses piercings não incomodam para beijar?
- Não.
- Você está molhada, vamos para minha casa que eu te seco, eu passo o ferro em você...
- Não obrigada.
Você e sua amiga riem muito da situação, e logo sua amiga fala para você:
- Gabi, coloca a mão aqui, vê como está molhado!
O homem vendo que o local trata-se da parte de trás da coxa da sua amiga, logo fala:
- Posso ver também?!
- Não.
- Nem em pensamento?
- NÃO!
Você e sua amiga estavam perto de casa, e o tal homem sem dentes pede seu telefone, e como você foi assaltada você passa o número sem problemas fazendo-o descer feliz do ônibus.
Ao chegar em casa sua mãe está louca gritando com você, te falando desaforos, jogando suas roupas em você e te dando ordens de comprar pizza com seu dinheiro para ela porque ela está com fome.
Sua amiga também não teve uma boa recepção com o pai dela, que ao começo do dia conversou com você tão amigavelmente, te dando conselhos maravilhosos e coisas do tipo. Agora o pai dela te xinga e te desaprova de todas as formas.
Sua mãe acaba saindo de casa pisando fundo, pela briga que vocês duas tiveram quando você chegou em casa, e diz voltar só daqui dois dias... CASA LIVRE!
Sua amiga vai dormir na sua casa... Apesar das brigas com os familiares... O dia foi bom.

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